Maldades, Maldades... Adoro Maldades!

Para apreciadores de "maldades" com nível, requinte e inteligência, que sabem saborear humor sátiro... Pautado por visões "dark side" do quotidiano.

domingo, 18 de julho de 2010

13ª Aula de Tango

Esta 6ªf passada e após três meses de Tango, dei por mim a considerar faltar à aula.
Estava completamente de rastos. Chegava a doer-me o corpo todo. A dor de cabeça que ainda não me tinha largado estava a dar azo a requintes de malvadez e até vómitos e tonturas tinha... E eu dei comigo a pensar que era melhor ficar em casa a descansar.

Depois de algum relevante esforço mental, lá me decidi ir e ainda bem! Definitivamente, o Tango tem sido um dos melhores remédios da minha vida.

Como já estamos no nível intermédio, a turma cresceu e agora temos sempre uma sala cheia de pares o que, na minha opinião, favorece o convívio entre colegas e estimula à aprendizagem.
O professor AN esteve a ensinar-nos alguns passos novos que derivam (sempre) dos passos base, mas com cruzamentos diferentes e sacadas pelo meio. As sacadas fizeram com que a aula fosse uma risota. Foi só rir e a rir perde-se a força e o equilíbrio necessários e aquilo não estava a dar com nada. Tínhamos mesmo de parar e rir que nem uns desalmados até nos conseguirmos voltar a concentrar.

Explicando...
Uma sacada consiste numa invasão do espaço do companheiro. Ainda que sendo um par e dançando em conjunto, cada um tem de respeitar o espaço do outro para se dançar de forma harmoniosa e sem atropelamentos. Uma sacada vai contra esse princípio. O homem ou a mulher que executar a sacada, tem de invadir (à bruta) o espaço do companheiro e neste caso em específico que aprendemos na 6ªf passada, isso resultava numas valentes cusadas (leia-se, bater rabo com rabo). Mas era com cada encontrão que nós saíamos disparados para lados opostos com uma velocidade assustadora.

Depois de várias tentativas, acabamos por chamar o AN numa de que não devíamos estar a fazer aquilo como deve de ser, porque era suposto não embatermos um no outro. O AN "pega" em mim para demonstrar e eis que me dá a maior cusada que tinha levado até ao momento. Não fossem os rápidos movimentos dele em apanhar-me e acho que tinha ido disparada contra uma parede. Obviamente que ficámos agarrados a rir que nem uns perdidos.

Fomos à segunda e tentativa e lá vai a MM contra os espaldares de madeira que estão na sala para os alunos de ginástica. Mais risota, mas felizmente não me magoei. Decidimos deixar aquilo para mais tarde, porque já não havia condições para repetir.

O AN enveredou então por uma sacada menos invasiva que consistia em uma das pernas do homem invadir o espaço de dança destinado a uma das pernas da mulher que, como resultado e para a mulher fugir daquela invasão, tinha de fazer um cruzamento.

Quando fomos treinar, eu não estava a sentir essa tal invasão por parte dos meus colegas e cruzava sozinha e automaticamente, porque já sabia que o tinha de fazer. O AN que andava a fazer ronda aos pares para observar, viu-nos e disse que eu não podia ter o movimento automatizado. Que tinha de esperar sentir a invasão para cruzar e eu expliquei-lhe que não estava a sentir coisa alguma. Toca de demonstrar comigo para explicar aos meus pares e a MM leva com o AN em cima de tal maneira que além de sentir a valente pernada do AN ainda sentiu uma ancada, entrocada, etc. LOL! Lá me agarra ele para eu não me estatelar redonda no chão. Aquilo não estava nada fácil. Ele estava numa de invadir à bruta, mas estava a esquecer-se de ter em consideração o facto de eu ser alta e ter as pernas compridas. O AN já só se ria, os que assistiam só se riam... Lá uma aula de risota foi.

Entretanto, dancei também com um colega do nível intermédio que não tinha par e eu achei por bem convidá-lo a dançar. Como tem já mais experiência que eu, correu mais fluidamente e deu-me mais um gostinho do que é dançar o Tango. De qualquer das formas, o AN ao observar-nos disse para experimentarmos antes os passos que estavamos a fazer com o abraço fechado (peito com peito) e puxou-me para mostrar o que queria que fizéssemos. Diz-me ele: "poxa rapariga! Estás com a alma pesada... Que tensão que tens em cima desses ombros! Larga lá esse peso, que eu preciso de comandar-te e a pesar dessa maneira, não dá!".

É verdade! Eu bem vos escrevi antes da aula que estava a arrastar-me. No abraço fechado como estamos literalmente penduradas em cima dos cavalheiros, foi somente natural ele ter sentido o peso que eu tinha em cima. Descontrair revelou-se complicado, mas lá deu para pelo menos não deixar os meus pares com uma espondilose.

Entretanto acaba a aula e começa a prática e os meus colegas desertaram todos. Incrível. TODOS! Fiquei eu e um dos meus habituais pares. Claro que estando só nós dois, deu para matar umas curiosidades com o AN e lá conseguimos repetir a tal sacada inicial sem chocarmos de rabo uns com os outros.

O AN dançou ainda comigo algumas coisas do Tango Nuevo e eu, ao que parece, estava muito impressionável uma vez que ficava pasma a ver o que ia sair dali. Sendo como não sendo, pelo menos, não fiz a figura que uma senhora fez a dançar com o AN quando ele se "pôs a inventar" um passo que também experimentou comigo.

Houve lá um passo novo que ele fez e que eu obviamente não estava à espera, mas segui o comando e arrepiei caminho e ele quando viu que eu não me atrapalhei, começou-se a rir e explicou o porquê de se estar a rir e que se tinha lembrado de um episódio que se passou com ele há uns anos.

Ao que parece, estava ele certa vez numa qualquer convenção de bailarinos e quando convidou uma das senhoras para dançar, saiu-se com aquele mesmo passo que fez comigo. A senhora assustou-se de tal maneira que aspirou o ar dos pulmões como se fosse sufocar. O AN diz que se fartou de rir e que se lembrou disso quando eu, apesar de não me ter atrapalhado, inspirei mais bruscamente.

Entretanto o AN partilhou também a opinião dele de que quando a mulher sabe dançar bem o Tango é bastante melhor que o homem, porque o homem sabe sempre o que faz e a mulher sendo conduzida dispõe de "cagagésimos" (citando) de segundos para interpretar o comando.

Depois disto parámos de dançar e estivemos a prestar atenção a algumas letras de Tangos que são inevitavelmente tristes, algumas retratando mesmo "sangue, morte e facada".

Conclusão: O Tango faz maravilhas e apesar de cansada, saí de lá (uma vez mais) revigorada!

Um bom resto de fim-de-semana!

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