Passamos a vida a adiar as coisas que realmente queremos, as que realmente desejamos e as que realmente nos fazem felizes.
"Agora não é a altura certa", "fica para amanhã", "vemos isso depois", "mais tarde combinamos"... E continuamos com as nossas eternas desculpas a adiar tudo por tempo indefinido, como se indefinidos fôssemos.
Não somos! Nunca seremos, mas vivemos nessa ilusão.
Que gene absurdo será esse que nos dá a ilusória sensação de eternidade quando somos criaturas tão frágeis e falíveis?
O por quê desta imbecil existência?
Trabalhamos porque precisamos de pagar as contas, porque precisamos subsistir neste sistema e ele assim está construído. Perdemos oito, nove, dez horas ou mais do nosso dia a fazer (grande parte de nós) o que não gosta. Ou em gostando, trabalhando com quem não gostamos ou onde não gostamos, etc...
Chegamos ao final de mais um dia cansados, sem paciência, nem cabeça para estarmos com as pessoas que realmente amamos, sem disposição para fazermos as actividades que gostamos e tudo por que temos de pensar no amanhã. No dia de amanhã e o levantar cedo e o precisar de estar em condições para enfrentar mais um dia...
Aturamos pessoas por puro cinismo, por que tem de ser ou por que não temos alternativa. Calamos sentimentos, vontades, desejos, fantasias, objectivos por que "não pode ser", "não é possível" e nem sequer nos entregamos à luta de tentar e vencer!
Qual é a finalidade de toda esta deprimente existência?!
Por que não posso eu estar com quem quero, fazer o que quero e lutar por ser feliz e sentir-me bem sem ter de pensar nas consequências inerentes às minhas vontades, quereres, anseios?
Por que é que tenho sempre de refrear a língua, os gestos e esperar que as coisas mudem ou acomodar-me ao que parece ser imutável?!
As coisas são como são e sempre serão. E eu viverei (?) aprisionada na maior prisão alguma vez construída e uma que será fatal: o invisível encarceramento da minha própria mente...
... Aguardando por um "amanhã" que me irá trazer o que realmente mereço, que me fará gozar a vida da forma que realmente quero e que me irá permitir estar com as pessoas que realmente me interessam.
FALSO!
O "amanhã" poderá lá estar. Estará efectivamente! Mas eu poderei não estar!
E então, naqueles escassos segundos antes da vida que me pulsa no sangue e me corre nas veias me abandonar... Eu irei reconhecer que a minha existência não teve qualquer valor e que fui apenas mais um ser humano enganado que viveu na ilusão da invulnerabilidade, que não teve mérito absolutamente nenhum e que nem protagonista da sua vida soube ser...
... Mais um fantoche que repetiu os mesmo gestos, a mesma rotina dia após dia à espera de alguma espécie de justiça ou equilíbrio que não existe e que apenas habita no nosso imaginário.
E sabem por quê?
Por que no dia em que chegarmos à conclusão que nada merece a pena e que o nosso desfecho é exactamente o mesmo independentemente da maneira como levamos a vida e do tipo de pessoas que somos... Já NADA estaremos cá a fazer...
... A não ser sentir na pele esse facto para o resto dos nossos incontroláveis míseros dias de fútil existência, na mais plena infelicidade, depressão, desespero e LOUCURA...
... Até nós mesmos nos perdermos e definharmos no abismo do desconhecido e quem sabe voltarmos e fazermos o mesmo "jogo" all over again, enquanto algum ser superior ou sobrenatural dá gargalhadas maléficas assistindo aos seus joguetes que, sem resistência possível, executam as suas pérfidas jogadas num tabuleiro controlado pelo seu sentido de humor preverso e ad aeternum...
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