Um amigo meu (o Mr. B mais concretamente), enviou-me uma mensagem no meu facebook pessoal a fazer a seguinte pergunta: "como estás tu verdadeiramente?".
Mania esta de fazerem perguntas difíceis!
Como estou eu verdadeiramente?!
Sabem aquela sensação que se tem quando se viaja para fora do país, principalmente para um país onde não compreendemos de todo a língua, os costumes, a cultura, a gastronomia... Aquela sensação de que somos nós, naquele momento, o elemento forasteiro, estranho, deslocado de todo aquele cenário?!
É assim que eu verdadeiramente me sinto, mas em relação ao Mundo. É isso mesmo! Sinto-me completamente deslocada no planeta Terra. O que é uma chatice, não acham? Uma vez que ainda não ouvimos falar de vida extraterrestre, nem de um planeta que possa suportar a nossa forma de vida... Mas é assim mesmo, sem tirar nem pôr, que me sinto.
Os meus médicos (e digo no plural, porque tenho mais que um a acompanhar-me e ainda assim, infelizmente, nenhum que esteja habilitado à prática de psicoterapia) dizem-me que sou demasiado realista. O psicólogo disse-me que pecava pelo excesso de racionalidade, lógica e consciência e parece que não me fico só por essas falhas. Peco também pelo excesso de realismo.
Disseram-me que tenho de ter sonhos e fantasias... Objectivos que, mesmo que não venha a concretizar, servem como factores de motivação para eu continuar a seguir alguma espécie de propósito na minha vida.
Não entendo este conceito. Não entendo por vários motivos.
Não sei em que mundo vivem estes médicos que dizem este tipo de coisas. O mundo onde eu tenho vivido os últimos 27 anos da minha vida, só se revelou ser (para mim) uma completa desilusão. Deixei de acreditar em conceitos tão básicos quanto Humanidade, Civismo, Altruísmo, Amor, Relacionamentos and so on...
Agora dir-me-ão vocês que sofro é de uma grande dose de pessimismo... Estão enganados! Sou realista. Deixei de construir castelos no ar e de acreditar nos sonhos e no príncipe encantado ainda antes dos nove anos. No Pai Natal nunca acreditei e no coelhinho da Páscoa, muito menos.
Querem que, agora com 27 anos, me iluda e crie todo um mundo de fantasia onde me será possível realizar os meus sonhos e ser e fazer as coisas que verdadeiramente quero e que me fariam feliz?! É isso?!
Não! Não estou a ser dramática, nem extremista! Estou a ser REALISTA!
Sim, sei! Obviamente, que existem coisas boas no mundo, coisas pelas quais vale a pena viver, existir. Há pessoas pelas quais vale a pena lutar, há causas que merecem a minha consideração e entrega... Há coisas, muitas coisas que ainda me fazem estar aqui e que não me permitem ter um único pensamento suicida. Agora, reconhecer o valor dessas coisas, pessoas, causas, etc... Não me retira o sentimento de desilusão, de desgosto mesmo, em relação a tantas outras.
Estou farta, cansada, esgotada, exaurida de todas as capacidades que durante praticamente toda a minha vida me fizeram "pegar o boi pelos cornos". Foi esse o meu problema, ao que parece. Deveria ter aceite o "boi" como uma coisa, causa, consequência normal do mundo em que vivemos. Mas não! Sempre quis ser melhor, marcar a diferença e tenho vindo a acumular amarguras, mágoas, frieza, desconfiança, revolta que me fizeram chegar onde estou agora.
Anos e anos a tratar-me qual cidade sitiada. Construí muralhas, fortes à minha volta na fútil tentativa de me defender. Arranjei todo um arsenal bélico e refugiei-me na certeza de que era impenetrável, invulnerável...
O problema está que todas as minhas estratégias contra o inimigo começaram a vergar-me e eu perdi-me no campo de batalha que criei dentro de mim mesma.
Estou tão saturada de todo o cinismo, corrupção, maldade perversa, egoísmo, crueldade, gente sem escrúpulos, sem carácter... Pessoas que não olham a meios para atingir fins e que nesse sentido, são inconsequentes (mas não inconscientes) e pisam, espezinham, atropelam tudo e todos na sua incansável demanda por... Ainda não percebi o por quê!
Será que ainda não perceberam que teremos todos, inevitavelmente, o mesmo destino?! Por quê?! Por quê tratarem-se assim a si mesmos e aos outros? Qual é a satisfação, o propósito?!
Se acordei agora para a vida e descobri a pólvora?! De maneira nenhuma! Por isso, podem dizer-me "já devias estar habituada". LOL! É esse o cerne da questão!
Não POSSO, não CONSIGO, RECUSO habituar-me. Habituar-me a isso, faz-me sentir cúmplice de TODO um sistema que abomino.
"Se não consegues vencê-los, junta-te a eles" - É o que dizem! Fazê-lo era transformar-me naquilo que tão fervorosamente defendo, combato e que está, em última instância, a humilhar-me, a querer colocar-me na minha posição insignificante de "não és ninguém sozinha e não vais conseguir mudar nada. Aceita! Resigna-te! Acomoda-te!".
Não o faço! Não o vou fazer... Ainda que isso signifique viver o resto da minha vida assim, nesta revolta! "Fiel a mim mesma" é o meu lema. E já que não existem conceitos tão primários, como fidelidade e lealdade... Sou-o, ao menos, para mim mesma!
Ainda que de nada me possa servir, ainda que nada venha a mudar pela minha tomada de posição, ainda que o Mundo continue no mesmo caminho de forma inexorável... Eu poderei dizer no fim de tudo e ainda antes do último fôlego abandonar os meus pulmões, que ainda que infeliz e em constantes momentos depressivos, acabo a minha existência com a consciência de que me mantive fiel ao que acredito, às minhas crenças pessoais, à minha boa índole, ao meu carácter, ao meu ser, a MIM com todas as forças que em mim existiram, até ao FIM!