Maldades, Maldades... Adoro Maldades!

Para apreciadores de "maldades" com nível, requinte e inteligência, que sabem saborear humor sátiro... Pautado por visões "dark side" do quotidiano.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

À Procura de Trabalho

Já vos disse que ando à procura de trabalho?

Na realidade, eu ando sempre à procura de trabalho e por isso é que assim que assento os "arraiais" e conheço de raiz as minhas funções na mais recente empresa empregadora, a primeira coisa que faço é actualizar o meu curriculum.

Sempre foi assim. Acho que aquela ideia de um "emprego para a vida", morreu como muitos outros conceitos dos "antigamentes".

Agora o que me leva a escrever sobre isto é o seguinte:

Os anúncios (raros) onde são mencionados os vencimentos a auferir na possibilidade da pessoa ter a sorte de ser empregue por aquela entidade em particular, roçam a linha do ridículo.

As exigências, essas são MUITAS... Mas aquando de dizerem quanto estão dispostos a pagar pelo cumprimento profissional e competente das mesmas é ver as tristezas que tenho visto diariamente.

Vencimentos que vão desde os velhinhos 485€ de "salário mínimo nacional" (como se com esta menção, a mais não fossem obrigados) até aos loucos 520€/600€. Ainda não vi um único anúncio onde publicitem um vencimento a receber, superior a estas pérolas.

E não me venham para aqui dizer que isso já é muito bom dada a crise em que estamos e tal e coiso, porque comigo não pega.

Sim, é CLARO que 485€/520€/600€ ou whatever são melhor que NADA. ÓBVIO! Mas isto é, na minha opinião, uma macabra chantagem e pressão que fazem sobre quem realmente precisa. 

É que se estivermos a falar de primeiro emprego, para meninos(as) acabados(as) de sair dos seus cursos profissionais, ainda a viver com os pais e sem despesas de maior... Tudo bem. Mas não. Querem pessoas cheias de habilitações, com resmas de anos de experiência em funções similares, com exigências superiores à dita responsabilidade "normal" e TUDO isso pela miséria que oferecem.

Outra coisa que me deixa completamente de queixo caído é quando pedem malta para assessoria administrativa, secretariado, etc. com as mesmas habilitações de quem supostamente vão assessorar. 

Mas isto tem alguma lógica?! Então eu licenciei-me em gestão ligada às finanças, contabilidade, etc. e vou assessorar um(a) fulano(a) exactamente com o mesmo nível académico que eu?! Mas o que é a outra pessoa a mais que eu?! O que sou eu a menos que essa pessoa?! O que fez com que essa pessoa seja a superior hierárquica e eu a subalterna? Uma cunha? Um ter nascido num "berço de ouro"?  Uma melhor oportunidade na vida? Não sei! E além de não saber, não consigo compreender.

Acho que as exigências não são realistas perante o que estão dispostos a pagar e pensei que a altura da escravatura já tinha acabado há muitos anos.

Tenho em crer que agora vivemos numa espécie de escravatura camuflada de crise, onde é correcto humilhar as pessoas com vencimentos ridículos só por que elas estão, infelizmente, numa posição inferior na classe social ou a atravessar uma maré de azar ou ainda por que estão desesperadas financeiramente e precisam de qualquer coisa (esquecem-se é que reveses acontecem a TODOS. Não há ninguém imune).

E acho ainda que pactuar com essa gente é descer mais baixo que eles. E não, não estou a dizer que as pessoas não se deviam candidatar. A questão está aí: isto tudo está demasiado mau para as pessoas depois de esgotadas toda as suas bem definidas alternativas, se puderem dar ao luxo de ser esquisitas.

Agora eu, da minha parte, e de cada vez que vejo um anúncio desses, fico com uma vontade surreal de responder exactamente com este tipo de retórica que aqui vos exponho. 

Se o faço?! Pois claro que não. Sei lá eu se amanhã não serei um dos desgraçados que tem de "baixar as calcinhas", permitir-lhes "ir-me ao cú" e no fim ainda ter de dizer "obrigada"?! E sei lá eu também, se não serão esses mesmos, que agora oferecem vencimentos ultrajantes, que me poderão contratar nessa altura?!

Nunca se sabe ou então é por que sou portuguesa e ser resignada e estúpida está-me no sangue. Não sei! A verdade é que me indigno, venho para aqui escrever como se não houvesse amanhã, mas NADA resolvo. NADA está nas minhas mãos resolver.

Agora que eu gostava de ver a cara de quem recebe os email's com as minhas candidaturas aos anúncios que não mencionam vencimentos e aos quais eu tenho respondido... Ai isso gostava!

Com toda a educação que me pauta e faz de mim quem sou, exponho upfront as minhas condições mínimas para considerar o trabalho em questão, mencionando precisamente o facto de não querer e nem poder dar-me ao luxo de perder tempo com entrevistas desnecessárias acaso não possam ir ao encontro do que peço. 

E despeço-me cordialmente com um:

"Agradeço a atenção dispensada e espero merecer o V/ melhor interesse na esperança de que não encontrem nas minhas palavras uma qualquer pretensão inexistente, mas tão somente o pleno reconhecimento do meu valor profissional e o compromisso prévio de total cumprimento das minhas responsabilidades indo ao encontro da  realidade da minha gestão pessoal financeira."

LOL! Os nomes que já me devem ter chamado! E vocês agora até podem dizer: "com esse discurso não queres trabalho, não?" ou "com esse discurso queres é um emprego" ou ainda "com esse discurso deves-te achar a supra sumo da cocada e a última coca-cola do deserto, não?".

E eu respondo: NÃO! Não quero é perder o meu precioso tempo quando sei antemão o que valho (e isso não é pretensão, vaidade ou arrogância. É tão somente o conjunto de todo o feedback que sempre recebi de TODOS os sítios onde trabalhei e a consciente promessa do que consigo efectivamente deliver) e acima de tudo (por que acaso não fosse este pormenor, pediria bastante mais do que peço actualmente), o SABER quanto preciso ganhar para não perder a minha casa, o meu carro, etc.

Não peço mais do que o básico para uma pessoa sozinha conseguir pagar as suas contas, sendo que como são os meus avós que me dão almoço e jantar, nem isso contemplo. Só para verem o triste nível das minhas "pseudo-exigências".

Será pedir muito? Será assim tão motivo da chacota que já terei sido alvo e serei de todas as vezes que responder a um anúncio com esse "discurso"?

Eu cá se fizesse parte do processo de selecção e recrutamento (e para que saibam, tive essa cadeira na faculdade), chamava a pessoa para entrevista (se efectivamente a empresa para a qual trabalhasse pudesse ir ao encontro das condições apresentadas) só para poder conhecê-la cara à cara e ver se era tudo o que prometia ou só mais uma que se estava a achar. 

E em sendo uma pessoa que se estava a achar, dizia: "pois, nós até estávamos a pensar oferecer "X" (um valor bastante acima do mínimo que a pessoa pedia), mas pensamos que não corresponde ao perfil que estamos à procura"

TOMA! - Muito provavelmente o que ainda me irá acontecer! LOL! ;)

3 comentários:

Ana disse...

Eu também ando há anos à procura de emprego, uma vez que a situação aqui na empresa se está a tornar insuportável. E acho piada quando as pessoas me dizem que eu ando armada em esquisita porque não posso aceitar os tais ordenados ridículos que oferecem. Eu moro sozinha, tenho uma casa para pagar, tenho despesas mensais e diárias que não cabem nesses ordenados. Só para teres uma ideia, com um ordenado mínimo eu não conseguiria nem pagar a minha casa, quanto mais o resto! Ora, se eu não tivesse emprego e andasse a passar fome, provavelmente teria de me sujeitar ao que há, teria de me desfazer da casa e coisas do género. Mas não é o caso, e assim sendo, vou reclamando da minha empresa, vou dizendo que estou farta e preciso de outra coisa, vou procurando, vou metendo e respondendo a anúncios, mas vou-me aguentado onde estou, mesmo contrariada, porque não me posso dar ao luxo de ir ganhar menos para qualquer outro lado.

MM disse...

Haja alguém que pense como eu!

Aliás, pela nossa troca de comentários e pelo que leio no teu blog, parece-me que temos bastantes semelhanças quanto à maneira de estarmos na vida e de pensarmos. ;)

Eu concordo com TUDO o que disseste. E não só concordo, como compreendo, pois eu estou na mesma situação... Sendo que eu ando à procura de emprego não só por mero capricho ou numa de "testar terreno", mas porque tenho em crer (é quase um facto) de que a empresa para a qual trabalho, irá abrir insolvência em breve e quero ver se "salto" antes.

É claro que agora ainda me posso dar ao luxo de ser "esquisita", mas também não sei o meu "amanhã".

O que me assusta é perder a minha casa... Mas se assim tiver de ser, será!

Ultimamente ando cheia de boa vibe e acredito que tudo irá correr bem!:)

Da minha parte, vou tentar transmitir-te esta minha energia positiva e desejar que também tudo corra bem para ti.

Um bom dia!

Beijinhos!

Ana disse...

Pois então estamos no mesmo barco, completamente. Por aqui, a ideia em relação à empresa é a mesma. Posso-te até dizer que fomos todos de férias na semana passada e ninguém tinha a certeza de encontrar isto aberto na 2ªf quando voltámos. Não foi desta, mas não sei se até ao final do ano as portas não fecham.

Vamos "rezar" para que tudo nos corra bem:)

Beijinhos