Já vos disse que ando à procura de trabalho?
Na realidade, eu ando sempre à procura de trabalho e por isso é que assim que assento os "arraiais" e conheço de raiz as minhas funções na mais recente empresa empregadora, a primeira coisa que faço é actualizar o meu curriculum.
Sempre foi assim. Acho que aquela ideia de um "emprego para a vida", morreu como muitos outros conceitos dos "antigamentes".
Agora o que me leva a escrever sobre isto é o seguinte:
Os anúncios (raros) onde são mencionados os vencimentos a auferir na possibilidade da pessoa ter a sorte de ser empregue por aquela entidade em particular, roçam a linha do ridículo.
As exigências, essas são MUITAS... Mas aquando de dizerem quanto estão dispostos a pagar pelo cumprimento profissional e competente das mesmas é ver as tristezas que tenho visto diariamente.
Vencimentos que vão desde os velhinhos 485€ de "salário mínimo nacional" (como se com esta menção, a mais não fossem obrigados) até aos loucos 520€/600€. Ainda não vi um único anúncio onde publicitem um vencimento a receber, superior a estas pérolas.
E não me venham para aqui dizer que isso já é muito bom dada a crise em que estamos e tal e coiso, porque comigo não pega.
Sim, é CLARO que 485€/520€/600€ ou whatever são melhor que NADA. ÓBVIO! Mas isto é, na minha opinião, uma macabra chantagem e pressão que fazem sobre quem realmente precisa.
É que se estivermos a falar de primeiro emprego, para meninos(as) acabados(as) de sair dos seus cursos profissionais, ainda a viver com os pais e sem despesas de maior... Tudo bem. Mas não. Querem pessoas cheias de habilitações, com resmas de anos de experiência em funções similares, com exigências superiores à dita responsabilidade "normal" e TUDO isso pela miséria que oferecem.
Outra coisa que me deixa completamente de queixo caído é quando pedem malta para assessoria administrativa, secretariado, etc. com as mesmas habilitações de quem supostamente vão assessorar.
Mas isto tem alguma lógica?! Então eu licenciei-me em gestão ligada às finanças, contabilidade, etc. e vou assessorar um(a) fulano(a) exactamente com o mesmo nível académico que eu?! Mas o que é a outra pessoa a mais que eu?! O que sou eu a menos que essa pessoa?! O que fez com que essa pessoa seja a superior hierárquica e eu a subalterna? Uma cunha? Um ter nascido num "berço de ouro"? Uma melhor oportunidade na vida? Não sei! E além de não saber, não consigo compreender.
Acho que as exigências não são realistas perante o que estão dispostos a pagar e pensei que a altura da escravatura já tinha acabado há muitos anos.
Tenho em crer que agora vivemos numa espécie de escravatura camuflada de crise, onde é correcto humilhar as pessoas com vencimentos ridículos só por que elas estão, infelizmente, numa posição inferior na classe social ou a atravessar uma maré de azar ou ainda por que estão desesperadas financeiramente e precisam de qualquer coisa (esquecem-se é que reveses acontecem a TODOS. Não há ninguém imune).
E acho ainda que pactuar com essa gente é descer mais baixo que eles. E não, não estou a dizer que as pessoas não se deviam candidatar. A questão está aí: isto tudo está demasiado mau para as pessoas depois de esgotadas toda as suas bem definidas alternativas, se puderem dar ao luxo de ser esquisitas.
Agora eu, da minha parte, e de cada vez que vejo um anúncio desses, fico com uma vontade surreal de responder exactamente com este tipo de retórica que aqui vos exponho.
Se o faço?! Pois claro que não. Sei lá eu se amanhã não serei um dos desgraçados que tem de "baixar as calcinhas", permitir-lhes "ir-me ao cú" e no fim ainda ter de dizer "obrigada"?! E sei lá eu também, se não serão esses mesmos, que agora oferecem vencimentos ultrajantes, que me poderão contratar nessa altura?!
Nunca se sabe ou então é por que sou portuguesa e ser resignada e estúpida está-me no sangue. Não sei! A verdade é que me indigno, venho para aqui escrever como se não houvesse amanhã, mas NADA resolvo. NADA está nas minhas mãos resolver.
Agora que eu gostava de ver a cara de quem recebe os email's com as minhas candidaturas aos anúncios que não mencionam vencimentos e aos quais eu tenho respondido... Ai isso gostava!
Com toda a educação que me pauta e faz de mim quem sou, exponho upfront as minhas condições mínimas para considerar o trabalho em questão, mencionando precisamente o facto de não querer e nem poder dar-me ao luxo de perder tempo com entrevistas desnecessárias acaso não possam ir ao encontro do que peço.
E despeço-me cordialmente com um:
"Agradeço a atenção dispensada e espero merecer o V/ melhor interesse na esperança de que não encontrem nas minhas palavras uma qualquer pretensão inexistente, mas tão somente o pleno reconhecimento do meu valor profissional e o compromisso prévio de total cumprimento das minhas responsabilidades indo ao encontro da realidade da minha gestão pessoal financeira."
LOL! Os nomes que já me devem ter chamado! E vocês agora até podem dizer: "com esse discurso não queres trabalho, não?" ou "com esse discurso queres é um emprego" ou ainda "com esse discurso deves-te achar a supra sumo da cocada e a última coca-cola do deserto, não?".
E eu respondo: NÃO! Não quero é perder o meu precioso tempo quando sei antemão o que valho (e isso não é pretensão, vaidade ou arrogância. É tão somente o conjunto de todo o feedback que sempre recebi de TODOS os sítios onde trabalhei e a consciente promessa do que consigo efectivamente deliver) e acima de tudo (por que acaso não fosse este pormenor, pediria bastante mais do que peço actualmente), o SABER quanto preciso ganhar para não perder a minha casa, o meu carro, etc.
Não peço mais do que o básico para uma pessoa sozinha conseguir pagar as suas contas, sendo que como são os meus avós que me dão almoço e jantar, nem isso contemplo. Só para verem o triste nível das minhas "pseudo-exigências".
Será pedir muito? Será assim tão motivo da chacota que já terei sido alvo e serei de todas as vezes que responder a um anúncio com esse "discurso"?
Eu cá se fizesse parte do processo de selecção e recrutamento (e para que saibam, tive essa cadeira na faculdade), chamava a pessoa para entrevista (se efectivamente a empresa para a qual trabalhasse pudesse ir ao encontro das condições apresentadas) só para poder conhecê-la cara à cara e ver se era tudo o que prometia ou só mais uma que se estava a achar.
E em sendo uma pessoa que se estava a achar, dizia: "pois, nós até estávamos a pensar oferecer "X" (um valor bastante acima do mínimo que a pessoa pedia), mas pensamos que não corresponde ao perfil que estamos à procura".
TOMA! - Muito provavelmente o que ainda me irá acontecer! LOL! ;)