Maldades, Maldades... Adoro Maldades!

Para apreciadores de "maldades" com nível, requinte e inteligência, que sabem saborear humor sátiro... Pautado por visões "dark side" do quotidiano.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Desemprego

Que o desemprego neste país não é novidade para ninguém, é um facto. Que assumiu contornos mirabolantes nos últimos tempos é inegável e ninguém pode estar/ser indiferente a uma realidade destas.

Eu espero mês, mês sim que o mesmo me aconteça. Há meses que recebo tarde e muitas vezes aos bochechos.

Vamos a dia 04 e eu ordenado... Nem vê-lo! Se na 2ªf que vem tiver alguma coisa na conta estou com muita sorte. Fui de férias, mas subsídio... Que é isso? Isso existe?

E agora e antes que me digam "ah, não te queixes que há quem esteja muito pior. Tu ao menos recebes. Tarde e às mijinhas, mas recebes", deixem-me dizer-vos o seguinte:

- Trabalho desde os 12 anos. Desconto oficialmente para a segurança social desde os 16 anos. Nunca (as in NEVER) cheguei ao dia 27/28 de cada mês (independentemente do mês ter 30/31 dias) e não tive lá o meu vencimento do respectivo mês;

- Se a desculpa agora é a crise, eu tenho a dizer que trabalho neste emprego há quase dois anos e NUNCA recebi a tempo e a horas, mas mais tardar a dia 1/2 tinha o dinheiro na conta. Só não compreendo é se a crise serve de desculpa agora, qual foi a justificação antes;

TODOS os meses desde que mudei para este emprego, tenho de PEDIR o meu ordenado como se não tivesse o direito a recebê-lo;

- TODOS os meses desde que mudei para este emprego, tenho de DAR JUSTIFICAÇÕES do que preciso de fazer com o MEU DINHEIRO na tentativa de sensibilizar o meu patrão;

- Desde que tenho este emprego e que os atrasos além de se alongarem no tempo (já cheguei a receber a dia 12), começaram a assumir o formato de "toma lá 200€ esta semana + 150€ para a semana que vem e o resto só a dia 22 ou mais", já passei pela vergonha (parece que é habitual para muita gente, mas a mim NUNCA tinha acontecido) de me ligarem do banco, porque não há dinheiro para pagar os débitos directos que vão caindo a partir do dia 28 de cada mês;

- Para evitar pagar juros de mora e comissões de conta a descoberto, vi-me obrigada a mudar as datas dos débitos o que, em alguns casos, me deu despesa (esta de ter de pagar para mudar a data em que nos tiram dinheiro é excelente);

- Ainda assim e com essas alterações, continuo a não ter o MEU DINHEIRO a tempo e a horas e TODOS os meses de há cerca de 6 meses para cá, me vejo obrigada a pedir dinheiro emprestado para coisas tão simples como pôr combustível no carro para poder ir trabalhar;

- Como já sabem, como em casa dos meus avós que só têm a reforma do meu avô para os dois e são ambos diabéticos com outras complicações de saúde e que lhes leva metade da reforma em medicamentos todos os meses;

- O meu avô tem 70 anos e ainda trabalha. Não só o precisa fazer para e por eles, como ainda tem de levar com a neta de 28 anos que não se consegue sustentar. NUNCA me disseram nada e são os primeiros a querer emprestar-me dinheiro. Eu que me parte o coração, pois EU é que estou em idade de ajudá-los, não posso obviamente aceitar esse tipo de ajuda (extra), pois já sei que não me iriam aceitar o dinheiro de volta, nem que para isso o meu avô trabalhasse mais;

- Resta-me como alternativa ir pedindo a esta(e) ou aquela(e) amiga(o) que  me empreste com a promessa de pagar na semana a seguir (que SEMPRE cumpri), mas que para além de me descontrolar as contas todas, é uma situação PERFEITAMENTE DESNECESSÁRIA;

- O meu patrão não me diz nada e ainda se dá à arrogância de perguntar (quando me queixo) "se preciso de um adiantamento", como se ainda fosse ele que me estivesse a fazer um favor adiantando-me aquilo que É MEU;

- Não tenho um tostão na conta a cada 14/15 de cada mês pois é "chapa ganho, chapa pago" e não, não me enganei. Não digo "chapa gasto", pois isso para mim dá-me a sensação de que tinha liberdade de escolha em como gastá-lo e eu não tenho. Ou melhor, tenho. Mas se não pagar a casa, os seguros, o crédito, as contas etc... Fico a viver na rua e sem carro... O que na prática me faz não ter essa tal "liberdade de escolha";

- Sim, a vida está má e está assim para uma GRANDE maioria (mas não todos. Desenganem-se os que assim pensam);

Por todos os aspectos acima mencionados (e outros que não passam pelo não receber, mas que ao pé do mau ambiente de trabalho e problemas diversos não são nada), fazem com que ande à procura de trabalho a sério. 

E digo "a sério", porque desde Outubro do ano passado (mês em que previ o fim da empresa onde trabalho), que já ando à procura. Mas como os pagamentos ocorriam em atraso, mas dentro do limite aceitável, tinha alguma margem de manobra na escolha de...

Neste momento, a tal "corda ao pescoço" que tenho desde que perdi a minha avó (como se perdê-la não fosse dor e sofrimento suficiente), está já a apertar ao ponto de sufocar e por isso afinquei-me nessa busca de novo trabalho.

Quando comentei este facto com algumas pessoas (de confiança, obviamente), veio-me TUDO com o discurso do "ai isto está tão mal, deixa-te é estar quieta onde estás até isso dar o berro e ires para o fundo desemprego, até porque eles pagam tarde, mas pagam" e EU SEI DISSO, minha gente! Acham mesmo que eu não sei?! Mas agora deram para me passarem um atestado de estupidez?!

Agora recuso-me a dar-me por derrotada. Sim, porque esse é o discurso do derrotado, do conformado, do preguiçoso. E é óbvio que não vou sair dali à maluca sem ter já para onde ir.

É (está) difícil, mas há que tentar. Há que procurar. Há que ter a esperança e ACREDITAR. Se no fim não der certo, ao menos não fiquei à espera de ver o "Titanic afundar", sem ter tentado apanhar o "salva vidas".

A melhor ainda foi ontem uma amiga minha que está desempregada há anos, me ter dito em tom de profundo sarcasmo "Olha, boa sorte!", como em "olha, para sorte para isso, hein?".

É pá! Socorro! As pessoas têm de parar para, não só se deixarem do discurso negativo (e antes que me critiquem e digam que eu não sei o que é estar desempregada... Estive sim! Uma vez há 8 anos atrás durante 8 meses e já naquela altura estava a desesperar e por isso isto não sou eu aqui a desprezar a situação actual de quem quer que seja), como têm de perceber que as condições não são iguais para toda a gente.

Eu ao contrário dela, tenho bastantes mais habilitações, sou mais nova, não tenho filhos e não estive parada nos últimos 10 anos da minha vida, tendo ganho experiência. Factores que poderão fazer TODA a diferença num processo de selecção para recrutamento. 

E sim, tenho MUITA pena MESMO que essas pessoas sejam de alguma forma discriminadas por terem uma família. Sou bastante compreensiva em relação a isso. Ninguém deveria ser posto de parte por causa disso, mas NADA justificava um comentário daqueles, pelo menos não no tom em que foi. 

Sei que foi fruto da sua preocupação por mim e por não querer que eu fique em igual situação, mas são muitas vezes comentários como esses (ainda mais vindos das pessoas que são nossas amigas, em quem confiamos e por quem nutrimos especial carinho e amor) que desencorajam as pessoas a seguir em frente e as deixam estagnadas no pânico e no medo.

Eu vou tentar! E tal como a campanha ganha do Senhor Presidente Barack Obama, vou acreditar que "I CAN", até efectivamente conseguir!

Tenho dito!

2 comentários:

Anónimo disse...

Como sabes passei exactamente a mesma situação que tu. Cheguei a não conseguir ir trabalhar por não ter um tostão para meter gasolina e quando abordei a situação fui gozada pelos meus patrões.
É doloroso trabalhar em condições assim, ter que pedir que nos paguem o nosso ordenado, fruto do nosso trabalho... Ai como te compreendo tão bem...
Força nisso, vais conseguir melhor e a palavra é mesmo acreditar, sempre!
Que o país esta em crise? Sim está, mas não é só de agora...
A vida é para aqueles que tem coragem de arriscar.
Tu consegues!

M disse...

Esse tipo de vida não é vida. Eles habituaram-se a pagar-te assim, e mesmo que haja dinheiro, claramente preferem-no no bolso deles. Ninguém tem de dar satisfações sobre o uso que dá ao seu dinheiro. Eu não tenho esse tipo de problemas com o salário, por outro lado tenho um ambiente de trabalho que se deteriora de dia para dia. Obviamente, que algumas pessoas pensarão que sou parva por querer sair, quando há tanta gente sem emprego, mas eu não vou deixar de comer bife porque há gente a passar fome. Quanto aos amigos, eu tenho 2. Tudo o resto são conhecidos. Essas duas dão-me na cabeça quando preciso, mas apoiam-me de qualquer das formas. Empregos existem, uns bons, uns maus. É tentar enquanto se é solteira e sem filhos.