1º Caso:
Ele começa a desconfiar dela por tudo e por nada. De cada vez que ela atende o telemóvel e se afasta para ouvir melhor, na cabeça dele é estar aos "segredinhos". Começa a perguntar-lhe onde andou quando ela não vai directa do trabalho para casa.
Ela não percebe o que se passa. Na cabeça dela, nunca lhe deu razões para ele desconfiar dela. Não percebe de onde veio a súbita desconfiança e insegurança. Inicialmente até acha "giro". "Ele ainda tem ciúmes de mim depois de 18 anos de casamento e dois filhos adolescentes", depois começa a ser demais e as discussões acontecem.
Ele vasculha-lhe a mala, as contas de e-mail, facebook e tudo o que possa dar prova do "crime" dela.
Ela começa a ficar obcecada com os comportamentos dela: "será que estou de facto a fazer algo que possa dar a entender ainda que erradamente que eu tenho um amante?". E é aí que "se faz luz".
"Quem desconfia, não é de confiar" já diz a sabedoria popular há muitos anos. Ela, que NUNCA desconfiou do marido, começa a procurar. Pensa: "serão as atitudes dele um reflexo da consciência dele?".
"Como quem procura sempre alcança", ela encontra. E quem tem outra pessoa é ELE.
2º Caso:
Um namoro de 15 anos, um casamento de 3 anos e um filho depois, ela descobre que ele tem outra mulher há já uns meses.
O chão rui debaixo dos seus pés. Não pode ser verdade e ainda que não hajam margens para dúvidas, ela só quer esquecer que aconteceu e nega a traição com todas as forças do seu ser. É o homem da vida dela, o pai do seu filho... Ele não lhe pode estar a fazer uma coisa destas.
Para ele, ela SEMPRE foi a mulher da vida dele. Ama-a verdadeiramente! Reconhece que errou, pediu perdão, disse-lhe que a amava e que já tinha acabado tudo com a outra pessoa e que queria reconstruir a relação deles.
Ela, magoada pondera seriamente perdoar. Mas quando ela perdoa, é de vez e não volta ao assunto nunca mais e por isso ela precisa saber se irá conseguir viver com essa decisão.
Quando ela toma a decisão de o perdoar e está prestes a dizer-lho, ele conta-lhe que a outra mulher está grávida e que o filho é dele.
Ela tenta, mas já não aguenta mais. Sente-se duplamente traída. Diz que não irá conseguir viver a vida dela ajudando-o a criar um filho que, não tendo culpa nenhuma, será sempre a prova, a lembrança de um erro estúpido e impensado.
Casos reais. A vida de três amigos meus, já que no segundo caso sou amiga dos dois.
No 1º caso e por que as coisas não começaram só na traição dele, chegaram à conclusão de que não se queriam mais. Que já não havia amor, que era o comodismo que pautava o seu casamento. O divórcio acabou por sair uma semana depois. Rápido, quase indolor (nunca o é) e ela de cabeça erguida a querer seguir com a vida dela.
Vejo nela as inseguranças de uma mulher que casou com o primeiro homem da vida dela. Uma mulher que apesar dos seus 36 ainda jovens anos, vê o corpo marcado por duas gravidezes que lhe deixaram os seios flácidos e cheios de estrias. Uma mulher que quer investir mais em si e pensa em voltar a estudar. Tudo coisas boas, claro... Mas sei que fruto da insegurança dela, fruto da incerteza em relação ao que o futuro lhe reserva... Receio de se encarar, MEDO da possível solidão.
No 2º caso, eles seguiram as suas vidas. O divórcio surgiu um mês depois. Ele assumiu o seu filho com a outra mulher e ela durante dois anos, fez a "rambóia" toda que não fez na juventude. Seduziu, conquistou e teve alguns homens. Nunca tinha conhecido outra realidade. Estavam juntos desde os 14 anos.
Aos 32 anos e com um filho, quis viver o que achava que devia ter vivido e que não viveu por devoção a um homem que não a mereceu, mas que no fundo sempre amou (ainda ama).
Ele diz-me que ela sempre foi e será a mulher da vida dele. Que se sente mal com ele mesmo porque para ele, filho é o que teve com a mulher da vida dele e que embora ame a criança que teve com a outra mulher, não a consegue ver com os mesmos olhos com que vê o filho mais velho. Diz-me isto com a voz embargada, com lágrimas nos olhos... Mas rapidamente olha-me nos olhos e diz "a vida continua".
Passaram-se dois anos e continuam os dois sozinhos. Ela cansou-se de tentar procurar o que falta nela mesma: confiança. Têm uma relação saudável e harmoniosa no que ao filho que têm em comum, diz respeito.
Para quem assiste, fica no ar quase visível e palpável o amor que nutrem um pelo outro. As promessas que ficaram por cumprir. Os sonhos que ficaram por realizar...
Estes casos não são recentes como terão percebido pela descrição, mas têm-me dado que pensar.
No 1º caso, penso no que é o fim do amor. No que verdadeiramente liga as pessoas umas às outras. Será o conforto, o comodismo, a segurança?! Será que só isso fica depois do amor? E sim, é claro que existe amor... Mas já não o amor que faça lutar por, já não é o amor que faz com que se queira ficar.
No 2º caso, eu acredito que eles irão acabar juntos um dia... Eventualmente! Eu quero acreditar nisso fervorosamente. E quero, porque não consigo conceber a ideia de que se possa perder um amor assim por um erro. Sim, foi um erro grave que criou uma ainda mais grave situação: um outro filho de uma outra mulher, mas ainda assim um só erro.
Devemos nós "jogar" a nossa vida, o nosso amor, a nossa felicidade fora por um só erro? Devemos nós esquecer tudo o que de bom essa pessoa nos fez e deu? Todas as boas acções, todas as vezes que esteve do nosso lado quando mais ninguém esteve, todas as horas de sono perdidas a tratar dos nossos "males", todos os momentos dignos de lembrança... Por UM erro?!
Se uma balança existisse e colocássemos tudo o de bom num prato e esse ÚNICO erro no outro... Terá o ERRO que pesar mais obrigatoriamente?
Não tenderemos nós a valorizar muito mais os erros do que as boas acções?!
É claro que não quero com isto dizer "ora 'bora lá fazer merda com fartura, porque a vida é curta e já que nos vamos perdoar por termos um tão grande amor um pelo outro e termos feito tanta boa coisa, que essas terão de pesar certamente mais que as más que fizermos... E por isso, nem vale a pena estarmos aqui com estas mesquinhices!".
Nada disso! É claro que as pessoas, precisam do seu tempo. Tempo para se "curarem", tempo para repensar a vida, tempo para decidirem, tempo para viverem... TEMPO!
Mas acho que seria bom recordarmo-nos mais vezes que o TEMPO de tão amigo que é, pode facilmente transformar-se em inimigo e que quando acharmos que está na hora, na altura de fazer qualquer coisa por... Possa ser tarde demais!
"E nunca é tarde para fazer o correcto", dizem muitos... E sendo verdade, teria sido tão melhor, tão menos penoso, tão mais prazeroso, tão melhor aproveitado se tivéssemos chegado a essa conclusão mais cedo.
"Errar é humano" e todos somos humanos. A GRANDE lição que eu tiro de histórias de vida como estas duas que aqui falei, é que além de não nos devermos esquecer disso... Que um só erro, um só desvio no nosso tão bem traçado percurso... Não nos deve (pode) fazer desistir e impedir-nos de sermos felizes.
Não é o percurso que interessa, mas o sítio onde queremos chegar que deve ser SEMPRE o nosso mais importante objectivo.
Sem comentários:
Enviar um comentário