Maldades, Maldades... Adoro Maldades!

Para apreciadores de "maldades" com nível, requinte e inteligência, que sabem saborear humor sátiro... Pautado por visões "dark side" do quotidiano.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pensamentos

Que levo uma vida de parva, já toda a gente sabe. Esta semana então, tem sido o cúmulo da parvoíce.

Com o frio que está e com o não poder manter o aquecedor lá de casa ligado muito tempo, pois a conta da luz não perdoa e já o mês passado tive de pedir dinheiro emprestado para a pagar... Tenho chegado a casa (depois do jantar às 19h com os meus avós), tomado banho e enfiado-me na cama. O que quer dizer que às 20h30/21h estou na cama.

Que mal tem isso? Mal nenhum... Eu adoro estar na cama, quentinha. Só é triste os motivos que me levam a estar na cama tão cedo.

Como nem sempre tenho o sono suficiente para dormir (sim, porque o cansaço esse tenho-o sempre) e ler um livro significa deixar as extremidades de fora e eu não aguento, acabo por me enfiar toda (literalmente) debaixo dos lençóis e cobertores e deixo a mente vaguear.

Está-se mesmo a ver que essa combinação não tem sido nada feliz, certo? A minha propensão ao drama não ajuda nada.

Ontem dei por mim a pensar na minha infância, no meu percurso enquanto ser humano e quando dei por ela... Escorriam lágrimas silenciosas pelo meu rosto abaixo, molhando a minha almofada, sendo somente aí que me apercebi que chorava.

Há quem acredite numa qualquer espécie de destino e justiça divinal (ou concertação universal), mas se assim é eu fui esquecida.

Sinto-me tão cansada. Cansada de não ter sido criança (e daí fazer um grande esforço para que e minha LL o seja), cansada de ter crescido à força, cansada de ser adulta desde que me lembro de ser gente, cansada de nunca ter tido a vida que eu acho merecer. 

Nunca fiz mal a ninguém. Não desejo mal a ninguém. Não sou egoísta, nem invejosa, peco muitas vezes pelo meu altruísmo e boa vontade. É claro que não sou perfeita. Ninguém o é, mas não encontro em mim razões que, de alguma forma, possam justificar a quantidade de "azares" e dificuldades que pautam a minha vida.

Dei por mim a chegar à conclusão de que sou sozinha. E ser sozinha é muito diferente de ser solitária, como tantas vezes digo que sou.

Cresci a puder contar única e exclusivamente comigo, a ter-me como melhor companhia e melhor conselheira. Os meus pais, que nunca o souberam ser, não podem ser culpados por toda a minha miss fortune, mas penso até que ponto não terão sido os responsáveis por parte dela.

Penso em como as coisas poderiam ter sido diferentes e, ainda que isso não adiante de nada, não consigo evitar o sentimento de que, sem ter culpa, sempre carreguei com um fardo demasiado difícil e pesado.

A minha avó acolheu-me em casa dela numa altura em que o desespero tomava conta de mim e acredito, até hoje, que foi por esse "resgate" ter acontecido que as coisas não acabaram dramaticamente para mim nessa altura.

Sinto falta da minha avó. Foi a minha avó que me ajudou a ser mais humana. A conseguir aceitar ajuda e carinho sem ter de obrigatoriamente dar algo em troca. Foi um percurso difícil, mas ela foi a grande responsável por hoje ser uma pessoa mais dócil, mais "aberta" emocionalmente falando.

Agora sem ela, são os meus avós paternos que assumiram essa função e dei por mim a pensar que será de mim quando também eles "me" deixarem...

Sim, tenho as minhas irmãs. A DD leva a vida dela nada, mas mesmo NADA fácil e só eu sei o que gostava de poder ajudar. A LL é ainda uma criança e faço os possíveis para a proteger, não deixando no entanto de a tentar preparar para este mundo tão injusto. Os meus pais... Nem vale a pena ir por aí...

Todos os que aqui me acompanham desde o início, sabem que nunca senti o apelo da maternidade e que nem faz parte dos meus planos ser mãe... Que será de mim?

Serei uma velha resingona, mal humorada e com mau feitio sem ninguém para me "amansar" ou sequer prestar os cuidados básicos. Serei tão sozinha quanto sempre me senti.

E qual será a diferença entre esse meu futuro e o meu presente?

Hoje, no presente, ainda tenho esperança. Pouca, mas está lá. No futuro, nada me restará a não ser a certeza da morte, com o constante lamento de que ela me leve qual gentil amante para o mundo do esquecimento onde na realidade sempre pertenci.

4 comentários:

Ana disse...

Pois, lá está, é o nosso percurso que nos faz ser de determinada forma e este teu texto também ajuda a perceber muita coisa.
Esse apelo da maternidade também nunca o senti - provavelmente, como me costumam dizer, por ter vivido sem a presença da minha mãe - e também já me questionei em relação à velhice, claro. O meu maior pilar na vida é, como já deves ter percebido, o meu pai, e já tem 82 anos... dá que pensar.

No entanto, eu sendo uma optimista por natureza, prefiro não pensar muito no amanha e acho sempre que tudo se resolverá da melhor maneira. E, com certeza, também encontrarás uma forma de ultrapassar todas essas preocupações.

Tem um bom fim-de-semana:)
Beijinhos

M disse...

Pessoas que lutam todos os dias para serem melhores e que não se agarram a desculpas esfarrapadas, são pessoas de valor. Uma má infância, uma família pouco familiar, falta de dinheiro, não podem ser nunca uma desculpa para perdermos os bons valores. É o que penso. E espero que a sorte seja mais tua amiga. ;)

Anónimo disse...

Mais um texto que poderia ter sido escrito por mim.

Muita coisa me revejo em muitas das tuas palavras.

Sabes o que te digo? Nunca estamos sós! Enquanto nos tivermos a nós mesmos a solidão não existira.

:)

MM disse...

Obrigada, meninas!

É importante para mim saber que existe quem me compreenda e acima de tudo, não me critique e ainda consiga dar apoio e palavras de conforto a uma completa estranha.

A blogosfera tem destas coisas... Descobrir pessoas extraordinárias no meio desta amálgama sem cor que é a vida que vivemos.

Beijocas e bom fim-de-semana para as três.