Maldades, Maldades... Adoro Maldades!

Para apreciadores de "maldades" com nível, requinte e inteligência, que sabem saborear humor sátiro... Pautado por visões "dark side" do quotidiano.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sobre A Crise

Que a Crise é um assunto real... Para mim, é! Mas para mim, este é um assunto que é real desde sempre. Não é de agora.

Agora é que está na moda toda a gente queixar-se e pôr as culpas na Crise para tudo e mais alguma coisa.

A Crise neste momento é bode expiatório de tudo, ainda que não se adeqúe enquanto explicação em certos ou determinados contextos. Mas ao que parece a Crise tem as costas largas.

Já deverão ter reparado que estou a escrever a palavra Crise com "C" maiúsculo. Por que o faço? Por que para mim, a Crise é uma entidade cheia de personalidade e caprichos.

Agora deixem-me dizer-vos o que eu oiço regularmente enquanto ajustamento de comportamentos à pala desta "menina".

- "Vou deixar de almoçar fora"; "Os pequenos almoços no café/pastelaria acabaram"; "Vou ter de tirar os miúdos das actividades desportivas"; "Os jantares fora acabaram", etc...

Sabem o que é engraçado?

Trabalho desde os 12 anos (como saberão os que me acompanham desde o início deste blog) e não faço ideia do que é almoçar fora.

Eu sou aquela pessoa que anda com a marmita atrás. Levo pequeno almoço, almoço e lanche. E tenho mesmo uma lancheira, como as crianças. Pequenos almoços fora, muito menos. Como em casa antes de sair e como outra vez a meio da manhã o tal snack que levo de casa.

Não sei o que é jantar fora só por que me apetece ou por mero convívio e diversão porque nunca pude fazê-lo. Sim, é claro que já fui a jantares de aniversário. Mas sabem que mais? Vou aos que não posso mesmo recusar (todos os outros recuso) e regra geral nunca os pago. 

E sabem porquê? Por que esses que não posso recusar, são convites de amigos que para mim são irmãos e que conhecem a minha vida toda. Assim sendo, eles sabem que eu não tenho capacidades de pagar e oferecem-me o jantar só para poderem ter a minha presença.

Fico sempre triste por não poder compensá-los como acho que mereciam, mas eles dizem ter a minha amizade e amor incondicionais e que isso é superior a qualquer recompensa monetária.

Enfim... Não deixa de ser uma situação que me causa desconforto e sempre que posso, não aceito que me paguem coisa alguma, mas a verdade é que eu sempre vivi assim... Com limitações.

Não sou de ir beber café fora, nem fazer coisinhas simples que ao que parece fazem parte do dia-a-dia da maioria dos portugueses, porque nunca tive vida para o fazer. Nunca saí do país para gozar férias. Aliás, as minhas férias são sempre gozadas em casa. Nem o "para fora cá dentro" pratico.

Atenção! Não me estou a vitimizar e nem a criticar as pessoas que têm possibilidades de fazer essas coisas. Ainda bem para elas, A verdade é que o que elas encaram como sacrifício a ser oferecido à Crise, para mim sempre foram luxos.

Eu sou da opinião que as pessoas em Portugal se habituaram a viver acima das possibilidades da maioria dos comuns mortais. Nós somos os que mais telemóveis temos per capita. Os que mais carros temos, os que mais casas compramos, os que mais férias fora gozamos e por aí fora.

Reajustamentos à Crise? Eu? Não tenho nenhuns a fazer. Tenho é um problema grave.

Com o nível de vida que se vive em Portugal, com o preço a que estão as coisas e os bens essenciais (apesar do Governo achar que não), o meu ordenado não sobra para mais nada.

Depois da renda de casa, do crédito do carro (que comprei há 2 anos, mas é de 1999 e onde estão incluídas as despesas com as obras de remodelação que fiz há pouco tempo), da água, luz, gás, telefone + Internet, seguro de saúde, seguro do carro, compras para a casa (sem carne, nem peixe), cuidados básicos de higiene e gasolina... Sobra-me ZERO!

Faço as refeições nos meus avós. Assim não fosse e passava fome. Literalmente. E sou sozinha e não tenho filhos e não tenho luxo nenhum.

Como é que é possível? Pergunto-me eu mais vezes que aquelas que consigo enumerar. Dou por mim a fazer contas "n" de vezes ao dia a tentar perceber se tenho algum gasto supérfluo e não encontro mais onde possa cortar.

Não, não quero que tenham pena de mim. Eu sinto-me é revoltada por ver que estou a pagar a conta por aqueles que durante todos este anos andaram a viver à grande e que eu, que nunca o fiz, sou obrigada a sofrer as consequências.

De cada vez que ouço o Governo apresentar cortes nisto e naquilo, penso nos que estão pior que eu. Naqueles que não têm ninguém com quem contar. Naqueles que do pouco que tinham, passam a ter nenhum... E pergunto onde isto irá parar...

Por isso, da próxima vez que os senhores jornalistas forem para a rua fazer perguntas sobre o reajustamento das pessoas à Crise, talvez devessem perguntar aos que passam realmente mal e não aos que passar pela Crise, significa menos pequenos almoços, almoços e jantares fora.

1 comentário:

Anónimo disse...

Como eu te compreendo...

Vivo na mesma situação...

Do meu ordenado, metade é para a renda da casa (um pequeno T1). Da metade que sobra tenho tal como tu a água, luz, gás, telefone, net, gasolina, comida. Tenho meses que vem uma despesa extra (avaria do carro ou outra coisa qualquer) e fico sem dinheiro mesmo para comer. É triste, mas é a realidade. Sou poupada, não sou de almoçar e jantar fora só porque sim. Nas saídas tenho sempre em atenção os gastos e quando o pessoal quer andar a pular de sitio em sitio eu tenho que fazer contas de cabeça muito rapidamente.
Actualmente a empresa onde trabalho está a atrasar nos pagamentos (sub de natal ainda nem veio), e o ordenado cada vez é pago mais tarde. É um sufoco quando chega ao dia 7 e o ordenado não aparece, pois não tenho dinheiro para pagar a renda... Ou como já aconteceu começar a pensar como vou para o trabalho se não tenho dinheiro para meter gasolina.
Fui criada por uma avó que faleceu em 2011. Sempre vivemos com muitas dificuldades pois ele tinha uma reforma de 200 euros que tinha que dar para ela e para mim e assim foi a minha vida até começar a trabalhar.
Férias é como tu... Em casa. E das vezes que fui ao Algarve fiquei em casa de alguém.
É triste, mas é a realidade. E pior que nós existem muitos...

:(

Um abraçinho querida.