... Que fiz a minha rinosseptoplastia.
Por esta hora há um ano atrás, tinha menos de 24h de pós-operatório e já estava em casa.
A cara toda negra, olhos e cara inchados, dores nos ouvidos e garganta, maxilares praticamente cerrados...
Ainda fui para casa com o nariz a escorrer sangue com uma "tenda de circo" montada lá dentro.
Passei três dias sem dormir (e a tomar comprimidos para dormir), sem comer (impossível comer com compressas até à garganta) e perdi 5kg.
Eu explico-vos esta história.
Aos 12 anos parti o nariz a jogar basquetebol (lembram-se?). Na altura não quiseram fazer nada (os médicos, entenda-se), porque ainda estava em fase de crescimento e teriam de se esperar uns anos para ver o que podia ser feito.
Se até aos 12 anos passava mal com a rinossinusite, a partir de então, deixei de respirar por completo da narina direita e da esquerda, a minha capacidade inalatória seriam cerca de 40% nas boas alturas do ano. Como devem calcular, perdi (muita) qualidade de vida.
À medida dos anos, as coisas foram piorando ao ponto de ter ido parar ao hospital de urgência algumas vezes com crises de falta de ar e dos próprios médicos me perguntarem se era asmática.
Dormia com quatro almofadas, praticamente sentada portanto e comer, principalmente da altura das crises alérgicas, era um desafio.
Ora bem, andei a protelar essa decisão anos a fio. Tinha medo, ouvia e lia coisas horrorosas sobre esse tipo de intervenções, etc.
O ano passado muni-me de coragem e cheguei à conclusão que tinha de acabar com aquela incapacidade inalatória absurda e que até esteticamente me perturbava. Como devem calcular, tinha o nariz torto (mesmo).
Lá fui ao médico com a decisão de ser finalmente operada. Pedi para me informarem sobre todos os pormenores, mesmo os mais dantescos, li e pesquisei na net em blogues, experiências sobre quem passou pelo mesmo e preparei-me para o pior.
Estava mais que capacitada, mas acreditem que conseguiu ser pior que os já horríveis cenários que tinha criado e estava à espera.
Agora, apesar de todo o sofrimento difícil de colocar em palavras, até por que os médicos aproveitaram a intervenção para tirarem uns quistos que tinha nos maxilares superiores (tudo isto por dentro, sem uma única cicatriz exterior), e apesar do mau estar e desconforto absolutamente excruciantes, se me dissessem que teria de repetir tudo "amanhã"... Eu repetia!
E sabem por quê? Por que ganhei uma qualidade de vida impossível de exprimir.
Fui operada em Dezembro e tive a cara negra até Março. É verdade! Quem acompanhou pode atestar o que digo. Mas a sensação extraordinária de respirar pelas duas narinas foi algo que me fez chorar com uma alegria atroz e incomensurável.
Durante todo o processo, estive calmíssima e bem disposta. As pessoas à minha volta e que, by the way, foram geniais... Agradeço-lhes TUDO o que fizeram por mim e TODO o apoio que me deram.
Sei que houveram amigos e familiares que assim que saíam porta fora, chegaram a chorar. Contaram-me depois. Um grande amigo meu, sofria horrores quando assistia às minhas tentativas de comer alguma coisa.
Estive 15 dias a dieta fria e líquida e ainda assim, o simples beber água era uma aventura. Não se podiam ligar aquecedores ao pé de mim e em pleno inverno e debilitada como estava, enregelava e mal conseguia andar. Aliás, precisava de ajuda para ir à casa de banho e o meu pai chegou a carregar-me ao colo escada acima e abaixo nas idas (duas vezes por semana) ao hospital.
Quando comia precisava de ter alguém ao pé de mim para o caso de me sufocar. Ainda que só bebesse caldo de sopa líquida e fria pela palhinha e sumos e água gelada (para ajudar a cicatrização), era um HORROR! Não é possível explicar. Só mesmo quem assistiu. E esse meu amigo sofria MESMO só de assistir. O rapaz quase tinha um ataque cardíaco de cada vez que eu engolia. O barulho que o meu organismo fazia ao engolir é indescritível.
Mas como dizia em cima, eu mantive-me sempre o mais calma e bem disposta possível. Houve alturas em que tinha vontade de gritar e chorar compulsivamente, mas mal conseguia falar (quanto mais gritar) e chorar estava fora de questão a menos que tívesse a death wish.
A primeira vez que chorei foi no terceiro dia. Ainda não tinham passado 72h sobre a operação e fui ao hospital retirar os drenos e algumas compressas de dentro do nariz. Mais uma vez, não consigo pôr em palavras, mas garanto-vos e o meu pai pode confirmá-lo que passei por todo o processo com extraordinária coragem e pacatez.
Quando o médico acabou a primeira fase da retirada da "tenda de circo", chorei. Lágrimas silenciosas que me escorreram cara abaixo.
Médico: Agora que já acabei e te fiz mal é que choras?!
Eu: Eu estou a chorar de felicidade. Pela primeira vez em praticamente toda uma vida, eu estou a respirar da narina direita.
Médico: MM estás com uma capacidade inalatória de 2/3%. Isso ainda mal se pode chamar respirar.
Agora conseguem imaginar depois de toda "a tenda de circo" retirada (compressas, talas internas, talas externas e sei lá que mais), como me senti?!
Foi fantástico!
Estive sem paladar praticamente um mês, pois cortaram-me alguns dos principais nervos que passam no céu da boca e que nos ajudam a sentir o gosto da comida (coisa que eu desconhecia) e após os 15 dias de dieta fria e onde me foi finalmente permitido comer polpa de fruta e sopa passada (já não só o caldo) e morna... A sério! Não há palavras. Esquecemo-nos das pequenas bençãos que todos temos à nossa disposição diariamente.
Um ano depois, nariz óptimo, a respirar a 100% e ganhei um perfil novo. Sim! Partiram tudo e teve de ser reconstruído. Aproveitei para fazer umas alteraçõeszinhas. Nada de drástico, porque não queria perder os traços do meu rosto e que marcam toda minha personalidade, mas definitivamente foi melhorado.
Um profundo agradecimento aos meus médicos, tanto ao que partiu e arranjou a desgraça toda que havia lá dentro e me pôs a respirar, como ao cirugião plástico que me deixou com um nariz impecável e nada artificial.
Um ano depois: o saldo é mais que positivo! :)
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