Maldades, Maldades... Adoro Maldades!

Para apreciadores de "maldades" com nível, requinte e inteligência, que sabem saborear humor sátiro... Pautado por visões "dark side" do quotidiano.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

"Normal"

Dita o dicionário que normal é dentro da norma, da regra, usual, exemplar... Um dia destes à hora do almoço estive a "discutir" este conceito com um colega meu.

Ele disse-me que (de encontro ao famoso e dantesco caso do homicídio do Carlos Castro) uma pessoa normal é aquela que entra na definição de bonus pater familias.

E o que é isso?

"O conceito pater familias é o modelo da pessoa capaz e responsável. Começou a fazer-se-lhe referência enquanto entidade abstracta e não a um qualquer pater (pai, chefe), mas ao bonus pater familias, numa apreciação assumidamente não só estatística (de normalidade), mas também moral ou, diríamos, «normativa». - Retirado do site http://muriasjuridico.no.sapo.pt/eBonusPater.htm.

Ora, estamos a falar sobre o tal caso que anda na boca de Portugal, e quiça do mundo, e diz-me ele que o Renato Seabra não podia de todo ser considerado uma pessoa normal.

Eu perguntei-lhe o que era uma pessoa normal e ele deu-me a tal definição (um pouco mais alargada e que poderão consultar na fonte da informação) e ficámos a falar sobre isso.

Eu disse-lhe que não me considerava uma pessoa "normal" em todos os aspectos da minha pessoa e ele pediu-me para eu identificar especificamente em que é que eu me acho "anormal" (por assim dizer).

Honestamente, nunca tinha pensado nisso. Juro que assim de repente, fui apanhada de surpresa. Adoro falar com esse meu colega (e já amigo) de trabalho, precisamente por ser uma pessoa de extrema inteligência e que me suscita dúvidas e levanta questões que fazem com que tenha de dar um uso (além do "normal") ao meu cérebro.

Em que é que eu não me considero normal?!

Não tive um crescimento normal. Tenho experiências traumáticas que me acompanham e fazem de mim a pessoa que sou hoje com todos os defeitos e qualidades. Não é à toa que estou a passar por um processo de tratamento de uma depressão.

Tenho lembranças desde os meus três anos de idade bastante vívidas (o que dizem, os especialistas entenda-se, ser bastante raro), comecei muito cedo a tratar de mim, no que à comida ou limpeza (quer pessoal, quer doméstica) dizia respeito. Aos cinco anos, nasceu a minha irmã do meio, a DD, e fiquei com a responsabilidade acrescida de criá-la.

Aos nove anos cozinhava, passava a ferro e fazia a lida da casa como se uma mulher casada e com filhos fosse.

Não cresci no meio de afectos ou de elogios. Cresci num seio familiar que cedo me ensinou a poder contar única e exclusivamente comigo, que me mostrou um mundo cruel, injusto e sem amigos.

Não tenho recordações de brincar com bonecos, excepto as lembranças que tenho de entreter a minha irmã com bonecos.

Fui vítima de violência física e psicológica e enfim... Acho que não vale a pena estar aqui a discorrer sobre os podres da minha vida e família.

Acontece que cresci fria, amargurada e revoltada com a minha própria existência. Aprendi a observar as pessoas, as coisas e as pessoas à minha volta numa tentativa de analisar tudo ao mais ínfimo pormenor para me poder defender, pois o meu crescimento dizia-me que só podia ser atacada.

Nunca me considerei uma criança e sempre tive a noção de que já tinha nascido com uns 100 anos.

A minha vida dava um livro amigos... Soubessem da história a metade.

O que eu quero dizer com esta conversa toda, é que tenho toda uma forma de ser bastante peculiar. A pessoa que sou hoje, devo-a exclusivamente a mim mesma e orgulho-me bastante por isso.

Sou bondosa, mas não "patega"; confio, mas não "me deixo pisar"; dou-me bem com todas as pessoas, ainda que não me despertem particular interesse; sou boa confidente, amiga, conselheira (esta parte devido precisamente à experiência de vida que tenho aos 27 anos e não devia) e em suma sou uma pessoa sociável e bastante comunicativa.

Quase todos os meus amigos são mais velhos que eu (por que será?) e não tenho paciência para "crianças" (entenda-se, as que o são sem o serem).

Não lido com gente estúpida e vazia e odeio as manias e as aparências.

Sou sempre muito EU, muito verdadeira. Tenho o lema pessoal de "ser sempre fiel a mim mesma. Ser EU onde e com quem quer que seja".

É claro que este tipo de comportamento ao longo dos anos tem vindo a ser cada vez mais diplomático, ainda assim não tenho um único amigo, colega, familiar, médico, etc., que não me tenha dito na cara "não és normal!".

Há quem diga que eu digo tudo como os malucos, mas amigos... Mal seria! Acreditem! Pode não parecer, mas sou bastante selectiva na informação que partilho e com quem a partilho.

Tenho é um grande à vontade com qualquer assunto e falo sempre sem timidez, receio ou pudor sobre o que quer que seja.

Não valorizo o que possam pensar de mim e poucas pessoas afectam a minha maneira de ser ou de pensar. Sou o que sou e conheço-me perfeitamente. Sei os meus limites e sei das coisas que sou e seria capaz de fazer em determinadas circunstâncias.

É óbvio que aceito opiniões, conselhos e os levo em consideração. Não sou orgulhosa e admito quando erro e sou a primeira a pedir desculpa. Não sou minimamente perfeita, mas considero-me uma pessoa muito justa.

A maior parte das minhas qualidades são em simultâneo os meus maiores e piores defeitos. O meu doce, disse-me isso uma vez. Na altura não pensei o suficiente para me aperceber que o que ele disse não era uma bajolice, mas sim uma Grande verdade.

Os meus médicos, terapeutas, amigos, família e pessoas que me conhecem bem, dizem-me isso mesmo. Aliás, está medicamente atestado. Lembram-se? A minha capacidade de auto-crítica e auto-avaliação imparcial?!

Não me vou alongar mais, pois vai para aqui um post do "tamanho do mundo", mas em suma digo-vos: não sou normal e tenho muito orgulho em não sê-lo!

Ainda que para esse facto tenha passado por coisas que não interessam a niguém e que ninguém merece... Todo esse conjunto de experiências fez de mim EU! E eu só me conheço assim!

Aberração ou não, normal ou não, o importante é sentirmo-nos confortáveis na nossa pele. Eu sinto-me na minha e isso vale-me por TUDO!

2 comentários:

Rebelde disse...

Admiro-te. Não por achar que tiveste coragem para escreveres tudo isso aqui, mas exactamente por não seres normal. Às vezes gostava que todas as pessoas fossem assim, à minha volta. Porque mesmo podendo parecer más ou frias, pelo menos era verdadeiras. Agora as pessoas que são só aparências e fantuchadas, tiram-me de mim. Deixam-me maluca!

E já agora, esse sr. assassinado também não tinha nada de normal, tal como o rapaz que o assassinou. Cada um lutou e defendeu o que quis, agora cada um acabou como quis. De qualquer maneira, o assunto não me agrada.

Voltando ao teu post: muito bom! Mais uma vez, tens a minha admiração por este bocadinho de ti.

MM disse...

Olá Rebelde!

Ainda que não me ache merecedora de admiração, agradeço-te as tuas sinceras palavras.

Às vezes também dou por mim a pensar que o mundo seria bem mais "fácil" se as pessoas simplesmente se reconhecessem como são. "Normais" ou não.

Tem um bom dia!

Beijinhos!