Se este blog fosse um "Pipoca Mais Doce", o post que irei escrever a seguir iria gerar polémica como se não houvesse amanhã, mas como não sou (feliz ou infelizmente dependendo da perspectiva), aos poucos que se derem ao trabalho de ler e aos ainda menos que se derem ao trabalho de comentar, tenho a dizer que estou pronta para o linchamento e apedrejamento em praça pública.
Acontece que à pala da taxa de desemprego ter assumido valores astronómicos no nosso país (e isto sem contar com os milhares de desempregados que não constam nas estatísticas oficiais) e a uma percentagem GIGANTE da nossa população activa estar desempregada e a passar sérias dificuldades, os que assim como eu ainda (sim, porque nunca se sabe até quando e já quase que "desejamos" ser/estar desempregados e já vão perceber o porquê deste meu comentário) têm trabalho/emprego são os privilegiados ingratos que não podem NUNCA, JAMAIS, reclamar, opinar, expressar comentários de descontentamento e ai de nós que nos sintamos injustiçados com as condições de trabalho a que estamos sujeitos, porque há gente a passar fome e etc e tal...
Antes de mais (e começa o apedrejamento), eu sou bastante solidária com essa realidade. Aliás e só para que saibam, tenho a minha mãe nessa situação e tem requerido a minha ajuda (bem como de outros familiares) para que ela não perca a casa e tenha o mínimo que comer para ela e para a minha LL (que quem me acompanha bem sabe que tiro TUDO de mim, para lhe dar a ela).
Acontece que apesar dessa triste realidade que é ou passou a ser o dia-a-dia de muito boa gente (e obviamente só peço - a quem ou ao quê não interessa - que não me veja eu nessa situação, porque derivado disso, deixaria de poder ajudar a minha mãe e irmã, já para não falar que também eu corria o risco de perder a minha casa e passar fome), eu lamento informar mas eu que TRABALHO não tenho culpa NENHUMA.
Acho que chegámos a um ponto em que os que ainda mantêm os seus trabalhos/empregos são olhados de lado como se leprosos fossem, pois estão de "barriga cheia" e não compreendem a situação dos mais desfavorecidos e por isso perdem o direito ao queixume (justificado ou não) e à liberdade de expressão pois são a classe privilegiada e têm mais é de calar a boca.
Ora, eu não concordo NADA com isto, obviamente.
E vou falar-vos da minha realidade e depois poderão chamar-me ingrata e sei lá que mais.
Eu tenho dois empregos, tenho dois contratos de trabalho, mas não tenho dois vencimentos. Tenho um vencimento e meio vá, já que apesar de trabalhar a full-time, só recebo a part-time de um deles. E porquê? Por que são os dois empregos e contratos para o mesmo patrão, mas para empresas/entidades diferentes.
Em Outubro fui colocada na posição de: ou aceitava a mudança distrital de local de trabalho ou ia para o desemprego.
Como eles precisavam tanto de mim, como eu deles e uma vez que a lei até estava do meu lado, até por que a deslocação é de cerca de 75Km/dia, consegui negociar alterações no meu contrato de trabalho, nomeadamente a cedência de uma viatura de serviço, pagamento de combustível e portagens pela empresa e um outro contrato de trabalho a part-time para a outra empresa do grupo.
Selámos o acordo, embora eu tenha tido naturalmente de ceder no vencimento acordado, já que não estamos em condição de regatear muito, mas fiz bom negócio dentro do possível.
Acontece que neste momento, tenho a gestão financeira e administrativa de DUAS empresas em cima de mim (daí o sair tarde e a más horas - e não, não me pagam horas extras - e não ter tempo para nada e ainda levar trabalho para casa muitas das vezes).
Estive doente e tive de ficar em casa, mas estive a trabalhar! Estive de férias, mas estive a trabalhar!
Trabalho a tempo inteiro para DUAS empresas a desempenhar para além do meu cargo e funções, as funções e cargos de mais três colegas que foram dispensados. Ou seja o patrão arrecadou três vencimentos e apenas deu metade de um deles a mim. Quem ficou a ganhar com isto?!? O patrão, claro!
Mas agora como eu sou uma privilegiada não posso, por que não posso reclamar e ficar chateada quando o patrão me faz este discurso:
"MM, como você sabe isto está complicado, as vendas desceram significativamente e eu vejo-me na posição ingrata de diminuir o seu vencimento."
E só para que percebam a minha revolta, vencimento esse que foi acordado no valor "X" em 2010 com compromisso de que passados os iniciais 6 meses, passaria a ser "Y" e que apesar de terem reconhecido as minhas capacidades e competência profissionais passado esse bendito período, "não poderiam cumprir com o prometido, pois era uma má fase e falamos quando fizer um ano de casa".
E foi esta a conversa ao "um ano de casa", ao "ano e meio de casa", aos "dois anos de casa" e assim sucessivamente. É que à pala desta conversa nem o aumento definido por lei eu levei.
TUDO aumentou para mim (e para todos): a renda da casa, o seguro de saúde (ai que ela tem seguro de saúde, a finória d'um cabrão) o seguro de vida e da casa, a água, a luz, o gás, etc... Sabem a ÚNICA coisa que não aumentou? O meu vencimento!
Então eu passei a ter o trabalho de três colegas para além do meu que já me chegava e sobrava e apesar dos aumentos em TUDO, o meu vencimento foi o único factor imutável.
Entretanto desde Novembro que tenho o outro suposto vencimento e que deveria ter-me ajudado a equilibrar as contas, mas guess what?
Em Novembro, avariou-se o meu carro particular. Em Dezembro, o vencimento "extra" foi todo para um frigorífico que "morreu" e o de Janeiro foi todo para uma máquina de lavar roupa, já que ela teve pena do companheiro e amigo frigorífico e também resolveu entregar a alma ao criador.
Ora, ainda bem que eu tinha este vencimento extra, é CLARO! Pois caso contrário, estava literalmente fod*** e não sou nada ingrata em relação a isso. Só estou a explanar estas situações para vos explicar que foi essa a justificação da redução do meu vencimento a tempo inteiro (e o mais antigo), dada pelo meu patrão. Foi basicamente assim:
"Como a MM tem outra fonte de rendimento não fica tão prejudicada!" - Fonte de rendimento essa que ele só tem conhecimento porque é ele que ma PAGA! Acaso trabalhasse eu para o "manel da esquina", ele não tinha nada que ver com quanto ganhava ou como gastava eu o dinheiro ou se um rendimento compensava a perda do outro.
Mas não! Como eu até tenho dois empregos e dois vencimentos e há quem não consiga sequer um e passe fome, eu tinha de me ajoelhar aos pés do meu patrão e dizer: obrigada patrão por me dar trabalho e pagar dois vencimentos (embora ande SEMPRE com eles em atraso) e eu até pago para trabalhar se necessário for, pois eu sou classe privilegiada e essa posição por si só confere-me automaticamente o direito de ser explorada independentemente dos meus direitos, pois não quero correr o risco de ser linchada em praça pública.
Foda-se!!!
Mas desde quando?! Desde quando não posso eu sentir-me explorada e mal paga?!
Eu continuo a ter o mesmo trabalho. O meu trabalho não diminuiu apesar do decréscimo das vendas e embora isso possa parecer contraditório, não o é por que o meu trabalho está ligado a burocracias e gestão financeira e administrativa e que não são directamente afectadas pela diminuição e/ou perda de negócios. Para além disso, eu trabalho para a outra empresa a full-time e essa não PÁRA. Tem um ritmo alucinante.
O meu patrão não me fez e nem faz nenhum favor ao ter-me como empregada. Ele teve a oportunidade de me despedir e não o fez por que precisava de mim. Eu todos os dias "visto a camisola" e trabalho arduamente para manter o meu "ganha pão" e evitar que entremos em "banca rota".
E se trabalho, amigos! Sai-me do corpinho. Não é favor de ninguém!
Não sou de todo alheia às "regalias" que ele mencionou como quem não quer a coisa (meaning, carro, portagens e combustível), mas quando ele aceitou levar-me com a empresa, sabia que teria de arcar com as consequências dessa mudança, inclusive e como fiz questão de lhe dizer, pagar-me renda da casa acaso eu decidisse mudar-me para a margem sul, sem que isso NUNCA afectasse as minhas condições contratuais e muito menos implicasse cortes no vencimento inicialmente acordado.
É claro que eu tenho o bom senso de compreender que, dada a actual conjuntura económica deste país, sou uma privilegiada. Mas isso não pode NUNCA ser justificação para sermos sujeitos a TUDO.
E ainda rematou com o brilhante: "acho justa esta proposta que lhe estou a apresentar!"
Justa?! JUSTA?!?
O que eu respondi:
- De "justa" tem ZERO (acompanhado do gesto universal para o efeito). A condescendência aqui é minha. Foi minha quando de 6/6 meses me dizia que não me podia aumentar conforme prometido por que "ai é a crise!". Foi minha quando me aumentou a carga de trabalho e as responsabilidades ao ponto da minha margem para enganos ser ZERO, tal é a gravidade das consequências de um eventual erro meu. Foi minha quando despediu os meus colegas e fiquei eu sozinha a assumir todas essas funções extra e é minha quando sou eu que faço de "bobo da corte" aqui do sítio e você que nunca foi empregado de ninguém na vida, vem do alto do seu pedestal falar-me de justiça. Acho que é melhor rever a sua definição do conceito, pois parece-me a mim que lhe é completa e absolutamente alheio.
E como, como de costume, ele espera até até eu ter a mala ao ombro e estar pronta a ir embora para me dizer estas merdas, consegui o "brilharete" de ter a última palavra, "rodar nos calcanhares" e ir embora, ainda que de nada me adiante.
Agora vá! Atirem a primeira pedra!
Mas não! Como eu até tenho dois empregos e dois vencimentos e há quem não consiga sequer um e passe fome, eu tinha de me ajoelhar aos pés do meu patrão e dizer: obrigada patrão por me dar trabalho e pagar dois vencimentos (embora ande SEMPRE com eles em atraso) e eu até pago para trabalhar se necessário for, pois eu sou classe privilegiada e essa posição por si só confere-me automaticamente o direito de ser explorada independentemente dos meus direitos, pois não quero correr o risco de ser linchada em praça pública.
Foda-se!!!
Mas desde quando?! Desde quando não posso eu sentir-me explorada e mal paga?!
Eu continuo a ter o mesmo trabalho. O meu trabalho não diminuiu apesar do decréscimo das vendas e embora isso possa parecer contraditório, não o é por que o meu trabalho está ligado a burocracias e gestão financeira e administrativa e que não são directamente afectadas pela diminuição e/ou perda de negócios. Para além disso, eu trabalho para a outra empresa a full-time e essa não PÁRA. Tem um ritmo alucinante.
O meu patrão não me fez e nem faz nenhum favor ao ter-me como empregada. Ele teve a oportunidade de me despedir e não o fez por que precisava de mim. Eu todos os dias "visto a camisola" e trabalho arduamente para manter o meu "ganha pão" e evitar que entremos em "banca rota".
E se trabalho, amigos! Sai-me do corpinho. Não é favor de ninguém!
Não sou de todo alheia às "regalias" que ele mencionou como quem não quer a coisa (meaning, carro, portagens e combustível), mas quando ele aceitou levar-me com a empresa, sabia que teria de arcar com as consequências dessa mudança, inclusive e como fiz questão de lhe dizer, pagar-me renda da casa acaso eu decidisse mudar-me para a margem sul, sem que isso NUNCA afectasse as minhas condições contratuais e muito menos implicasse cortes no vencimento inicialmente acordado.
É claro que eu tenho o bom senso de compreender que, dada a actual conjuntura económica deste país, sou uma privilegiada. Mas isso não pode NUNCA ser justificação para sermos sujeitos a TUDO.
E ainda rematou com o brilhante: "acho justa esta proposta que lhe estou a apresentar!"
Justa?! JUSTA?!?
O que eu respondi:
- De "justa" tem ZERO (acompanhado do gesto universal para o efeito). A condescendência aqui é minha. Foi minha quando de 6/6 meses me dizia que não me podia aumentar conforme prometido por que "ai é a crise!". Foi minha quando me aumentou a carga de trabalho e as responsabilidades ao ponto da minha margem para enganos ser ZERO, tal é a gravidade das consequências de um eventual erro meu. Foi minha quando despediu os meus colegas e fiquei eu sozinha a assumir todas essas funções extra e é minha quando sou eu que faço de "bobo da corte" aqui do sítio e você que nunca foi empregado de ninguém na vida, vem do alto do seu pedestal falar-me de justiça. Acho que é melhor rever a sua definição do conceito, pois parece-me a mim que lhe é completa e absolutamente alheio.
E como, como de costume, ele espera até até eu ter a mala ao ombro e estar pronta a ir embora para me dizer estas merdas, consegui o "brilharete" de ter a última palavra, "rodar nos calcanhares" e ir embora, ainda que de nada me adiante.
Agora vá! Atirem a primeira pedra!
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